quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Feets On The Clouds

Uma estrada vazia e sombria, podia muito bem levar a lugar nenhum por seu aspecto sem vida. Mas eu sabia, sabia onde aquilo acabava.
Nos sonhos vagamos pela mais alta das núvens e o mais fundo dos oceanos...Tenho o costume de ficar no meio, na terra, observando as pessoas enquanto dormem...Suas mentes nos abrem caminhos, costumes, idéias e imagens.
Algumas pessoas me apontam para o sul como se fosse um pássaro. De certo que em sonhos voar não é problema...Outras pessoas seguram minha mão e não me deixam ir, dessas eu tenho medo, pois em seus pesadelos me afogo: penhascos, incendios, armas de fogo, monstros dos espelhos, similaridades com a vida...Coisas que não quero ver. Me desvencilho cuidadosamente e digo adeus.
Varro os pensamentos para longe e me concentro na estrada.
Pego sua mão, entrelaçada na minha, sorrio. Você tem medo do escuro, quase esqueci.
Vejo curiosidade, dúvida e medo em sua face...Sua mão não diz a mesma coisa, segura firme na minha e determinada.
E nós caminhamos. Você diria algo se no meu sonho você não fosse muda.
Eu não diria, mesmo se pudesse. Porque a parte de mim que fala se escondeu lá no fundo, segurando as feridas que sangravam e prometeu nunca mais sair. Achou um pouco engraçado e riu de sua própria miséria.
Sou toda de gestos. Significados. Olhares.
Andamos no asfalto seco com os passos ecoando ao nosso redor. Com a ansiedade que me cerca não consigo evitar, solto-lhe com um olhar infantil e disparo a correr. Você em minhas canelas.
Meus cabelos voando com o vento que batia em minha face, seus cabelos descançados no penteado de sempre, num misto de usual e fantasia.
Sou a primeira a chegar à extremidade da estrada, você segundos depois.
Á nossa frente um grande e redondo lado. A luz trêmula do sol refletia da superfície em nossas roupas.
Aponto minha mão para a água e você pode ver, e pela primeira vez deseja falar mais do que nunca.
Vê nosso reflexo. Mas não um reflexo usual.
Levanta e olha em volta, não há muita coisa...Volta o olhar para o reflexo e descobre casarões de pedra ao nosso redor...E nós, não poderia sermos nós, certo?
Me olha com urgência nos olhos e eu penso forte o bastante para que possa ouvir "Eu vou pra lá".
Você acente e se levanta, parando ao meu lado em posição de espera.
E pulamos. E submergimos...
O nosso mundo leva a crer que o fato de nunca mais termos voltado significa nossas mortes...Mas você sabe tanto quanto eu que isso é impossível.
Porque de lá de dentro vi a luz da superfície e a alcancei...Os casarões de pedra à nossa volta. E nossos reflexos, bem...Nada que alguém além de nós reconhecesse...



L- Sometimes, I wish your feets were in the earth for a bit...Of course I would beat you up until you got back to normal...But, you know.

Um comentário:

  1. Gosto do jeito que vc escreve, de forma direta e com detalhes.
    Gostei daqui =)

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