terça-feira, 2 de agosto de 2011

A little dream of me

"I don't have to leave anymore, cause all I got is right here"
Islands, The XX



Eu não tenho dormido direito.
Não é insônia, propriamente dita. Não. É algo diferente.
Algo que me faz pensar em analogias estúpidas referentes ao computador:
"Para instalar as atualizações, reinicie o computador"
Eu não tenho reiniciado. Deito, durmo leve. Aquela etapa do sono em que a realidade ainda é parte do cenário, e os barulhos e cheiros de ambas as plataformas brincam entre si.

Mas eu tenho uma capacidade incrível de sonhar. Sonho na hora que fecho os olhos. Sonho rápido e sonho muito. Não me interessa o digam sobre o sonho só vir na etapa REM do sono, ou que ele só dure 10 minutos. É mentira.
Eu fecho os olhos, e consigo ver o gramado. É tão longo, que não identifico o fim em nenhum dos lados. Minto - do lado esquerdo, vejo algumas montanhas surgirem, e a neblina em sua última curva.

Estou descalça na grama, e as pequenas folhagens brincam no espaço entre os meus dedos. Lembro do que uma professora me disse uma vez: a grama ajuda a eliminar a energia estática, relaxa. Sinto parte da tensão dissipar com o contato.

Meu corpo, não é meu. De jeito algum. É baixo, branco, compacto e esquisito. Mas eu gosto da ideia. Os cabelos negros, bagunçados, caem em "v" pelos ombros, até centímetros antes do cotovelo. O vento os carrega para todos os lados. Eu gosto da sensação.

Eu dou um impulso, e estou voando. Uma mistura de liberdade e expectativa implode meu cérebro. É como se eu já tivesse feito isso muitas vezes no passado. Como se fosse algo naturalmente cravado em minhas dobras cefálicas. Embora soubesse que faculdades cerebrais nada tinham a ver com isso.

Estou a tal altura que posso tocar as nuvens, sentir o jato de vapor se dissipar em uma onda gelada. O tecido do meu vestido ficando úmido, fazendo com que eu estremeça, involuntariamente.

O tremor lança jatos de realidade por meu corpo. Estou de volta à cama. Meu ouvido dói. Ficou tempo demais abafado pelo travesseiro. Mudo de lado. Puxo a coberta. Fecho os olhos.

E estou no ar. Parada. Olhando para baixo. Vejo uma construção grandiosa se erguer no horizonte. Minha curiosidade de arrasta até lá. Prefiro não entrar por cima. Desço, coloco minhas mãos no portão pesado e antigo, sentindo o gelado do ferro e também o áspero da ferrugem. Empurro-o. Ele se escancara.

Não há caminho de terra até a construção. Talvez por minha vontade continuar a pisar na grama; talvez pelo meu medo de descobrir o que há lá dentro.

Não é uma casa. Tem o tamanho certo para ser um castelo, mas sem curvas, sem trabalho arquitetônico, sem nada. Um galpão gigantesco. Ao invés de janelas, frestas. Não há portas, apenas um buraco. Posso ver, agora de perto, que a parede é feita de pedra bruta, incrustada com algo que brilhava no contato com a luz.

Entro de uma vez só. E imediatamente sei que lugar é aquele. Corro até o centro do salão e minhas mãos alcançam a borda de um poço. Minha respiração é pesada e irregular. Me corrijo - RECONHEÇO o lugar, mas não SEI que lugar é aquele.

Espio pelo grande buraco destampado do poço. Não vejo mais do que 50 centímetros adiante. Meu primeiro impulso é pular, mas algo me alerta que não poderei voar para fora depois.

Ouço alguém se aproximar. É outra mulher. Ela não fala. Quando sonho dessa forma, raramente as pessoas falam. Ela usa uma veste vinho que destaca sua pele clara e as formas de seu corpo.

Não sei o que pensar de sua aproximação. Parte de mim deseja ficar sozinha. Parte de mim acha a surpresa interessante. Ela chega perto, os cachos castanhos brincando em volta de seu rosto, estende uma mão para mim. Eu aceito. Ela me puxa, e nossos lábios se encontram. É intenso, molhado e significativo, mas dura apenas um segundo.

Não me recupero do choque cedo o bastante para segurá-la. Ela passa por mim, pelas bordas do poço e pula. Juro ouvir sua risada como um eco. Mas não tenho certeza. Debruço-me sobre o buraco, alarmada.

Mais uma vez, o choque me traz de volta à realidade. A tosse machuca meu peito, e eu não consigo respirar propriamente. Mas eu não ligo, viro novamente de lado, fecho os olhos, mas já é tarde.

Não há ninguém na construção. Nem mesmo eu.

Um comentário:

  1. 1- The xx (LLLLLLLLL)
    2- nossa, que viagem. Me lembrou de muitas coisas que a gente conversou.
    3- algo me diz que vou visitar esse lugar ao sonhar de tão rico em detalhes que é.

    Adorei.

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