quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sobre sensações opressivas


Para ler ouvindo: Ache, James Carrington


"O amor é um sentimento opressivo" eu disse sem pensar. Logo depois, aquela velha sensação tomou meu peito, como se tivesse sido evocada. Era um aperto. Um laço prendendo-se ao redor da minha caixa torácica. Parecia, mas não era preocupação. Não era negro e nem branco. Não era carinho e nem descuido. Era quente, intenso e ligeiramente tóxico. Não me deixava respirar. Pelo menos, não sem lembrar tudo o que me disseram para esquecer.

"É só opressivo se você quiser" ele respondeu depois de pensar alguns segundos. Não me perguntou da onde eu tinha tirado aquilo, não me olhou como se eu fosse louca. "Ele tem muitas faces. Pode ser libertador".

Admirei nossas mãos, atentamente. Minha pele parecia muito branca em contraste à dele, que era avermelhada, marcada pelo sol. Tinha a impressão de que se me concentrasse demais na presença dele, ou na minha, aquele momento se esvairia rapidamente. E nós deixaríamos de existir.

"Estou livre da carência e do medo de ser consumida pela carência" repliquei, ácida. Talvez ele não soubesse do que tratava-se aquela conversa. Talvez fizesse todo o sentido. Talvez esse fosse o perigo. "Mas a carência é medo de mim mesma. Então, em troca do amor, abro mão de mim".

Senti a ondulação de seu corpo quando ele suspirou e me permiti olhá-lo, finalmente. Descansava as mãos em cima da cabeça, formando um losango com os braços - uma posição muito peculiar masculina. Parecia relaxado, não fosse pelo olhar preocupado que lançava em minha direção. Será que tentaria me salvar de meu estado descrente e acabado com alguma resposta cheia de fé no amor?

"É, acho que é verdade" não pude deixar de parecer surpresa. Concordar com o outro nunca fora nossa atividade preferida. Mas é claro que não acabava ali. "Abrimos mão de nós mesmos. E a outra pessoa faz o mesmo. E, no fim, é uma troca. Vale a pena, não é?".

Nossos olhares se encontraram e permaneceram trancados no outro por um momento ou mais. Naquele instante, ele sabia. E eu também. Abri um sorriso derrotado, de quem perde um debate justo.

Ajeitei novamente minha cabeça em suas pernas, o gramado proporcionando uma posição confortável para meu corpo. As costas dele estavam apoiadas no tronco de uma árvore, uma de muitas ao nosso redor. Nossos amigos, felizes, agiam como crianças há alguns metros dali - entre eles, a garota que fazia com que ele acreditasse em tudo aquilo. A mesma que fazia com que eu não acreditasse.




13 comentários:

  1. Intrigante... Talvez curioso se isso for baseado em fatos reais.
    Muito bom o texto Jujúb.

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  2. O amor tem muitas faces e muitas fases também, tipo estações.
    Gostei da sintonia foto-texto, é quase como se pudesse incluir o texto como uma cena do filme.
    cê manda bem demais :*

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  3. Sem palavras para descrever o quanto gostei do seu texto, Ju.
    Me identifiquei com ele em determinados momentos, e sei que não fui a única: Quem nunca vibrou por amor ou sofreu por amor?
    Acreditou, desacreditou e tornou acreditar de novo, em todas as suas manifestações?
    O amor é controverso, estranho e ninguém está imune a ele. Ninguém.

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    1. "O amor é controverso, estranho e ninguém está imune a ele. Ninguém" adorei essa frase. Valeu, Ly ^^/

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  4. É como Oskar comentou ali em cima: amor é como estações. E na nossa vida, talvez seja um inverno muito longo, ou outono. Não sei qual é a favorita que o destino ou seja lá o que for escolheu pra mim ou pra você.

    Faltou indicar uma música, Jubz. Ou vale a trilha do filme? xD

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    1. Sempre coloco a música que estou ouvindo ao escrever XD.

      Ah, nem te conto o que ele escolheu. Read again and again and again and you might understand.

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  5. Já passei por isso, aliás, ainda passo, mas nã vem ao caso. rsrsrs
    Gostei do blog.


    brendovieira.blogspot.com

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