terça-feira, 18 de janeiro de 2011

By The Light Of The Moon

.
.
Lots of people are hard, but not most. Most are just scared or lonely, or lost. They don’t know why they’re here or what’s the purpose, the reason, so they wind up half dead inside.
By The Light Of The Moon - Dean Koontz





"É bom que dê certo!" gritei à plenos pulmões, sem ligar pra quem mais ouvisse. Ele já descia o terceiro nível de escadas, e deve ter revirado os olhos quando ouviu minha voz. Não liguei. Era bom que desse certo mesmo. Afinal, era um plano estúpido - o plano estúpido DELE. Na minha versão dos planos, ao invés de confrontar a vida com nada além de um escudo de plástico, estaríamos correndo a 500 km por hora. Na direção oposta, claro.
Não me leve a mal. Não é uma questão de ter ou não coragem. É questão de autopreservação. Ele, de todas as pessoas, devia apreciar mais a palavra.

--

Três horas depois e nada. Ligo para o celular dele e cai na caixa postal. Começo a perder o fôlego. Tem alguma coisa errada. Tem alguma coisa errada. Tem alguma coisa errada. Não consigo parar de repetir essas palavras enquanto me balanço para frente e para trás, espiando pela janela. Pareço uma criança autista. Uma criança autista que estava certa, aparentemente. Qual deveria ser meu próximo passo mesmo?

--

Já escureceu. Eu ouço um barulho no corredor. Passos, talvez de mais de uma pessoa. "Isso não está certo", sussurro para mim mesma. "Que droga".
Forço meus pés a cumprirem seu dever - andar. Preciso andar. Correr. Ele não vai mais voltar, isso já está claro para mim. Cretino de uma ova.
Espio pelo olho mágico. Um frio se espalha pela minha espinha. Minha respiração, meus passos, o pulsar do meu sangue. Qualquer coisa já seria motivo para morrer. A oferta de paz havia sido rejeitada.

--

Quase não sinto o baque quando encontro com o chão. Sinto cheiro de sangue, de chuva e de algo alcoólico. Mãos ásperas se encarregam de todo o trabalho, eu não ouso me mexer, não ainda. Do outro lado do vidro da janela, vejo os primeiros raios de lua cheia atingirem os prédios. Antes de apagar, a última coisa em minha mente é "É bom que dê certo, porra".


2 comentários:

  1. post experimental ou não, seu nível de escrita continua sublime.

    Impressiono-me com sua liberdade em desenvolver as cenas, os detalhes e também a sutileza em permitir ao leitor a confusão (pelo menos pra mim foi) de um final onde afinal, quem morre?

    E quem venham muitos outros!

    ResponderExcluir
  2. Bom, não sei se alguém morre XD, mas ela se transforma!

    ResponderExcluir

speak your mind